Procuradoras Gisela Sousa e Lys Sobral participam de debate sobre o filme inédito Pureza

Protagonizado pela atriz Dira Paes e dirigido pelo cineasta Renato Barbieri, o longa retrata a realidade do trabalho escravo contemporâneo no Brasil

As procuradoras Gisela Nabuco Majela Sousa, do Ministério Público do Trabalho no Tocantins, e Lys Sobral Cardoso, coordenadora nacional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conaete), participaram da exibição especial do filme Pureza, organizado pelo projeto EducaDH  em parceria com a Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo do Tocantins (COETRAE-TO).

O longa retrata a história de Pureza Lopes Loiola, mãe, que passou três anos à procura do filho Abel, desaparecido em 1993 após ser aliciado por agentes do trabalho escravo. Pureza percorreu o interior do Maranhão e do Pará, em peregrinação por garimpos, carvoarias, madeireiras e plantações.

Durante a busca, ela conheceu histórias de trabalhadores que viviam sem liberdade, sob as ameaças de produtores rurais. Os depoimentos e informações que ela colheu, tornaram-se denúncias que foram investigadas.

Em 1997, recebeu o "Prêmio Anti-Escravidão", medalha oferecida anualmente pela Anti-Slavery International, organização não-governamental do Reino Unido que faz campanha contra o trabalho escravo.

O filme foi produzido com recursos oriundos de penalidades aplicadas na Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho em Marabá (PA), em acordo homologado pela 2ª Vara do Trabalho, além de outras fontes de financiamento.

 

Debate

Na avaliação da procuradora Gisela Sousa, o filme tem uma simbologia importante. “Ele escancara uma ferida que não cicatriza que é a escravidão. A Lei Áurea eliminou formalmente a possibilidade jurídica de exercer sobre o outro o direito de propriedade, mas o Brasil continua sendo um País escravocrata. Esconde entre paredes situações de exploração, de absurda indignidade e aviltamento de direitos humanos”, declara.

A procuradora Lys Sobral, que atuou por dois anos e meio em Marabá, teve a oportunidade de ver em operação aquelas inspeções que foram retratadas no longa. “A arte tem esse poder me mexer com as nossas emoções. Esse filme precisa ser mostrado para a nossa sociedade em peso, que precisa demais enxergar essa realidade. O filme é perfeito e a atuação da Dira é maravilhosa”, elogia.

A atriz Dira Paes destacou o privilégio de interpretar Pureza na obra cinematográfica. “Muitos fatos me honram de desempenhar a Pureza no cinema, entre eles a própria personagem em si. Conhecia a Pureza, não pessoalmente, mas pelo seu histórico e pela sua importância antiescravista. Ela é uma mulher abolicionista espontânea, natural. Ela não vai em busca do filho para se descobrir uma mulher abolicionista. Ela simplesmente é abolicionista”, afirma.

Para o diretor, Renato Barbieri, a participação da rede institucional de combate ao trabalho escravo, que reúne mais de 20 organizações nacionais e internacionais, foi de grande importância para a realização do filme. “Deram apoio absolutamente essencial para que essa longa história de doze anos fosse contada no cinema”, afirma o diretor.

Para o frei Xavier Jean Marie Plassat, coordenador da Campanha de Combate ao Trabalho Escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), “o filme Pureza realiza um sonho muito grande: de conseguir trazer, para o amplo público, essa emoção, essa empatia, essa compaixão, que necessariamente sentimos quando recebemos de forma corriqueira na CPT trabalhadores que fugiram de fazendas”, afirma.

A representante do Quilombo Dona Juscelina, Ludimila Carvalho dos Santos, também gostou da obra. “Pureza, reúne em si o passado, o presente e o futuro. Enquanto comunidade quilombola, assistir a essa produção é memorar e reafirmar nossa luta cotidiana pela liberdade plena e principalmente contra ao trabalho escravo contemporâneo.”

Na avaliação da coordenadora do Projeto, a analista jurídica da Defensora Pública do Estado do Tocantins Liz Marina Regis, a atividade teve avaliação satisfatória por seus participantes e promoveu espaço de articulação entre o meio profissional, acadêmico e comunitário. “Assim, entende-se que seu objetivo de sensibilizar sobre os direitos humanos por meio de diálogo qualificado sobre trabalho escravo, estimulado pela linguagem cinematográfica, foi alcançado, e que a utilização de tecnologias digitais com instrumento de aprendizagem se firma como essencial para dar continuidade ao processo de construção compartilhada e interdisciplinar de saberes, considerado o atual momento de emergência de saúde pública.”

Participaram, também, do debate membros do Ministério Público Federal, do Ministério Público do Estado do Tocantins, da Defensoria Pública do Estado do Tocantins, do Ministério da Economia, estudantes e professores da Escola Superior da Magistratura Tocantinense, pesquisadores sobre trabalho escravo, além de lideranças de movimentos sociais.

 

Trabalho Escravo no Brasil

Segundo dados do observatório de Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas do Ministério Público do Trabalho, entre 2003 e 2018, foram resgatados mais 45 mil trabalhadores vítima de trabalho escravo.

Apenas no primeiro semestre deste ano, de acordo com informações do Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho, 231 pessoas foram resgatadas de trabalho escravo no Brasil.

 

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